Thursday, April 13, 2006

Não há canto deste mundo que não espelhe a verdade; todas as coisas o são apenas na minha presença. Como explico que na televisão se apanhem vislumbres de uma Torre Eiffel, se eu nunca sequer fui a Paris? Na presença da minha indisponibilidade física para fazer existir o aglomerado de metais, acento a que uma caixa mágica me transporte e me faça desligar a distância que vai entre o pensar e o agir. Fico-me absorto: ávido consumidor de felicidades embaladas, no fundo, anestesiadores disfarçados de brilhante - e assim eu durmo, acordado.
A certeza de que há um mundo que conspira contra mim torna-me frívolo e apagado. Choro as mortes que não vejo, e que nenhuma caixa mágica faz existir; choro as guerras de quem se diz igual a mim e de quem sobre a presença acento em inexistência. Mas choro mais. Longe doutras caixas mágicas, não de cores mas de sons, acento a que nesse escuro vazio que te priva o céu aberto assim te fiques inconsolável; como eu desacreditada de que há ainda um papel para prencheer. Choro isto. Choro a demência de vestir a máscara de ser assim... incapaz.
As conclusões de um mundo vazio de nada servem se não forem desafiadas, porém. Como consolo resta-me a vaidade de poder desmistificar a mais pequena conveniência: há um campo de amplitude que torna a acção humana no maior handicap para o universo - contrariar isto é afirmar que os deuses afinal existem: divina é a criação.
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O entorpecimento é senão a arma que eles usam. Eles, que andam por aí. E é assim que eles ceifam as tuas almas, de cada vez que tu renasces.
Mas há uma forma. Uma ténue e fugaz esperança de que se te agarrares ao teu mais pequeno desejo, e com rigor apliques a conduta que te é (dizes tu) impossível, consigas chegar ao ponto em que os enganas e te tornas tu o oposto a esses ceifadores de almas, e te encarregues de as fazer crescer ao ponto em que se possam afirmar livres; livres de ser livres.
Não é fácil...